Pimenta no Reino

pimenta no reino dos outros é refresco!

Minha foto
Nome:
Local: United Kingdom

Veja aqui todas as distrações de um brasileiro jornalista perdido no Reino Unido. Para ver fotos, entre no endereco http://picasaweb.google.com/louraidan

domingo, julho 8

e termina assim


e eis que chega o fim. o tempo desmanchou, voou. entrei hoje na minha ultima semana de inglaterra. fim de semana que vem me despeco de londres em paris, e, no dia 17 de julho, pego aviao de volta ao brasil.

se tivesse uma palavra pra resumir essa minha vinda ao continente velho, ela seria surreal. passei grandes apertos, vivi situacoes completamente surtadas, e ri muito. valeu a pena demais. foi, sem duvida, a experiencia mais importante e doida da minha vida.

aos que passaram por aqui, uma ou outra vez, obrigado. foi forte, divertido, foi maluco.

ate' `a volta.

domingo, junho 24

portugues bonito, portugues de guine-bissau


estava voltando pra casa ontem, sentado no ponto, esperando o onibus 18. ao meu lado, havia um menino, uma moca e um moco. todos negros e falando um portugues. portugues bonito... nao eram brasileiros, e nem eram portugueses. pensei q podiam ser de angola, mas o sotaque e' diferente. perguntei pra moca: de onde vc e'? e descobri q eles eram de guine-bissau.

qdo eu disse q eu era do brasil, ela abriu um sorriso: ja morei em brasilia, estudei na UNB entre 1984 e 1989. conheci varios lugares no brasil, ela continuou, como ouro preto, rio de janeiro, belo horizonte...

formada em relacoes internacionais, carmem e' diplomata em londres. acho lindo diplomatas, ja ate pensei em estudar, mas, na verdade, minha personalidade nao tem mto a ver com diplomacia... adoro uma briga.

disse pra ela q o brasil q ela conheceu ta' bem diferente do brasil de hoje. na epoca, ela conheceu o sarney em brasilia. aqui em londres, ha dois anos, ela foi a uma palestra do lula. tempos mudaram, realmente.

eu ja estive em brasilia, ja fui em varias manifestacoes, eu disse. ela riu, e completou: sim, ha' mtas manifestacoes por la'. isso continua o mesmo. rimos.

sexta-feira, junho 22

17 horas de luz



Ultimamente, tem amanhecido em Londres por volta das 4h30 da manha e anoitecido por volta das 21h30. Ontem, no entanto, foi o dia mais longo do ano da Inglaterra: mais de 17 horas de luz. Era quase 10h da noite qdo foi anoitecer.

Os mais misticos, celebraram o dia em Stonehendge. Em londres, varios eventos foram organizados para comemorar o momento. Eu fui em um deles, em uma universidade, uma apresentacao ao ar livre de "Sonhos de uma Noite de Verao". Shakespeare em sua lingua mae, vi pela primeira vez. Os atores meio fraquinhos, mas foi bom.

Cheguei cedo, e fui pedir informacoes sobre a peca para um italiano, que logo me apresentou "as meninas brasileiras". Em Londres e' assim: conheceu brasileiro, gruda. Na foto, ao fundo, a mineira Junia (igual eu: estudante de ingles e cleaner pra distrair) e, no canto, a baiana Rosane (estagiaria na universidade onde foi apresentado a peca).


segunda-feira, junho 18

fotos apenas no final da aula, por favor



meus colegas de sala sao figuras demais. esquisitissimos, mais do que vcs podem imaginar. como ja disse em outro post, cada um vem de um lugar: tem russos, iranianos, colombianos, franceses, poloneses...

hoje, faltando uns 40 minutos pra acabar a aula (que dura 3 horas), um colega arabe tirou a maquina fotografica da mochila e anunciou que hoje seria o ultimo dia de aula do iraniano da sala, ele volta pro ira amanha. perguntou a professora se haveria problema em tirar umas fotos com a turma, ela disse tudo bem.

ai' comecou a graca. eu confesso que a vida em londres pra mim esta sendo surreal. e eu acabo achando graca de tudo. eu me divirto, confesso. um cara polones (o mais chato da turma) virou pra todo mundo e disse: "pq nao tiramos as fotos no final da aula?". uma iraniana (!!), q ate' entao parecia ser simpatica, fez coro: "eu vim pra aula pra estudar e aprender ingles. nao acho q seja momento pra fotos". sim, eu juro, ela falou isso. eu me segurava para nao rir. fiquei pensando se fosse no brasil - ia ser uma alegria parar a aula e despedir do colega, tirar fotos e tal.

a professora, meio sem graca, ignorou os pedidos da nao-fotografia. achei otimo. tiramos umas 3 fotos, ate' q o polones se manifestou novamente: "estou querendo me concentrar pra fazer o exercicio, sera' q e' possivel?". estressadinho o rapaz, nao?

o moco, entao, decidiu parar as fotos por ai' e disse q no final da aula continuava. oquei, deu meio-dia, aula acabou e quase todo mundo se foi, ignoraram o rapaz, nem deram um adeus, um boa sorte. eu, logico, fiquei. mesmo pq o irariano e' um dos caras mais bacanas da sala, um dos menos estranhos e dos mais bem-humorados.

primeiro, veio a foto com a professora. foi otima: ela, sentada na cadeira na frente da turma, ele em pe', atras dela. se fosse no brasil, no minimo um braco no ombro, fala serio! formalidade total. ficou parecendo aquelas fotos antiiiiiigas, em que os avos sentam, e os familiares ficam atras, fazendo fundo.

por fim, juntamos eu, a professora (de calca preta), uma francesa (negra), uma russa (de camisa rosa), o colega do iranino (no canto`a esquerda - sei q ele e' arabe, mas nao sei de qual pais) e fizemos uma foto. o iraniano e' o de camisa amarela.

mas o mais engracado ficou pro final, no momento despedida. fui desejar boa sorte na vida pro rapaz, boa viagem, e estendi a mao para cumprimenta-lo, normal. foi entao que ele puxou meu braco e meio que veio pra me dar um abraco e um beijo no rosto. na verdade, dois: um em cada lado. estranhissimo, mas e' assim no ira, entao, oquei: bom retorno e viva o ira!

domingo, junho 10

um colombiano, uma escola de samba e muita musica baiana



sabado passado fui com um amigo colombiano assistir brasil e inglaterra num bar brasileiro em londres. para comecar, ficamos na fila ate’ 30 minutos antes do final da partida. brasil estava perdendo, os ingleses cantavam, os brasileiros calados. mas com o gol de empate do…do…quem mesmo fez o gol canarinho? o diego? enfim, o 1 a 1 virou motivo pro lugar virar uma festa.

para mim, a festa acabou ai’. do nada, entrou uma escola de samba. meu amigo colombiano: ‘ samba! no brasil e’ assim: em todos os bares tem escola de samba?’ perguntou. e eu, como o brasileiro ali, nao sabia sambar. ele achou super estranho: 'mas como, vc nao sabe sambar?' nao tenho menor ideia, disse, enquanto ele tentava ensaiar uns passos e eu com as maos no bolso.

a escola de samba, como tudo ali, era um cliche so’: excecao para as mulatas – nao eram mulatas… eram tres branquelas inglesas que nao tinham a menor ideia do que seja samba. mexiam as maos pra la’, para ca’, mas definitivamente aquilo nao era samba. mas, logico, estavam quase nuas, imitando as brasileiras na passarela do rio… disso o colombiano gostou mais ainda.

acabou a escola de samba, entraram as musicas baianas. meu amigo vibrava, depois dos 3 copos de cerveja… tava adorando, eu, detestando. 'de musica baiana, vc nao gosta?' para nao comecar a dar uma de chato, tentei mostrar uma certa empolgacao. cantei todinha a musica ‘poeria’ da ivete sangalo, para mostrar pro colombiano q eu era mesmo um brasileiro. tocaram o tchan, e os ingleses q restaram no local se divertiam…

os brasileiros, na verdade, todos se divertiam. so’ eu q nao achava graca nenhuma, mas, pela forca do cliche e do estereotipo brasileiro, tive q me empolgar com aquela festa… musica baiana da boca da garrafa e escola de samba com suas inglesas semi-nuas sambando… assim e’ o brasil em londres.

domingo, junho 3

sou brasileiro

"Eu me identifico com este país, apesar de sua desmesura, assim que eu também devo ser desmedido para muitas cosas." Esta frase e' de um teologo cubano, em uma entrevista que acabei de ler na internet. Eu tomo ela pra mim emprestada para me referir ao Brasil. O pais nosso e' cheio dos problemas, e' pobreza, e' violencia, e' corrupcao...mas, como diz tb o padre sobre Cuba, eu nao conseguiria viver longe dele por muito tempo.

Acho que nao sou um brasileiro típico (se e' q existe brasileiro tipico), mas não sou outra coisa. E vi uma materia na Folha semana passada que me deixou mais orgulhoso ainda do Brasil. "Com exceção de imigrantes de primeira ou segunda geração, não existe nenhum brasileiro que não carregue um pouco de genética africana e ameríndia", afirmou o geneticista Sérgio Pena, professor titular de bioquímica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em entrevista à BBC Brasil.

E a ancestralidade africana e amerindia vem em sua grande maioria da parte materna. Era comum a relacao entre europeus (portugueses) e mulheres negras ou indias. Isso todo mundo sabia, mas o que o historiador Manolo Florentino, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acrescenta `a pesquisa realizada, e' que grande parte das relacoes entre o colonizador e o povo negro/indio que deram origem ao povo brasileiro nao foi forcada, como se costuma pensar.

Segundo o historiador, a maioria das relacoes eram entre portugueses pobres que vinham tentar a vida no Brasil e se envolviam afetivamente com indias e negras. A miscigenacao brasileira "e' muito mais uma história que reúne pobres amantes de cores diferentes do que violência e estupro", conclui.

Ou seja: somos todos filhos pobres, "de pobres amantes", somos uma mistureba total, somos brancos, negros e indios. E' bonito demais ser brasileiro, nao e', nao?

segunda-feira, maio 28

ta todo mundo doido

E’ impresionante o tanto de doido que tem aquí na Inglaterra. Doido mesmo, doido varrido, q fala sozinho, q faz gestos estranhos, com tiques nervosos e tudo mais. E nao e’ so’ em Londres, nao. Cheguei a morar em duas cidades do interior e e’ a mesma coisa. Qualquer canto q va, sempre se acha um doido.

Explicacoes? Aqui, o dinheiro vem sempre em primeiro lugar. Nao queria dizer esta palavra, mas o sistema, o capitalismo e’ mto forte. Aquí se trabalha demais, e o consumismo substitui qualquer outro valor. Capa do final final de semana passado do jornal The Guardian, Vivienne Westwood, uma estilista, teoriza sobre a sociedade inglesa: 'Can't u see we're all just part of a sick, consumerist society that knows the price of everything and the value of nothing?'

Alem disso, aqui tudo e' vigiado - para tudo ha' regras... Nao sei, a pressao sobre as pessoas e’ grande demais. Falarei mais disso no proximo post.

Outro motivo pode ser a solidao. As pessoas aquí vivem mto sozinhas. Nao se ve casais trocando carinho na rua, ninguem olha pro outro (como comentei anteriormente) e, em geral, todos procuram mesmo ficar sozinhos. Nunca tinha visto tanta gente usando MP3, e’ incrivel. E colocam no volume alto – do tipo: nao me incomode, estou na minha. Fazem de tudo para se isolarem. Nao e como no brasil, onde se puxa papo em fila de banco ou dentro de onibus.

Os ingleses, com toda riqueza e o poderio economico que tem, estao ficando doidos, birutas de tudo. Na verdade, estao desaprendendo a ser felizes...